domingo, 5 de dezembro de 2010

Feridas III

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Aquando da morte da nossa mãe o que imperava em casa era o silêncio. A minha infância, e a da Carolina, foi feita de pequenos momentos, de idas à praia e de passeios no campo alentejano. Foi feita de almoços em família, de Natais memoráveis. Fomos miúdos com sorrisos estampados no rosto.

Quando a primeira morte aconteceu muita coisa mudou. O nosso pai cavou um buraco de onde só mais tarde, com muito suor, lágrimas e a nossa ajuda, conseguiu sair. As nossas forças estavam no limite dos limites. A fraqueza apoderou-se de uma família que até então parecia feita de betão. Bastou um condutor embriagado para acabar com tudo o que foi construído com Amor e perseverança.
Lembro-me, infelizmente, desse dia. Estava um dia quente em Vila Viçosa. Aquele quente que só no Alentejo se sente. Visitámos o castelo e o palácio. Almoçámos num restaurante típico. À saída parámos à espera que o sinal ficasse verde para os peões. A luz mudou. Atravessámos. Eu, a minha irmã e o nosso pai fizemo-lo a correr, em jeito de brincadeira. Ela, a nossa mãe, ficou para trás. 
E um ruído soou.


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