segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Feridas IV

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Ao fundo vimos um carro, descontrolado. Não abrandou. Quando olhei para trás vi-a parada a olhá-lo, como se não se conseguisse mexer. Ainda gritei. O som que se seguiu continua a ser nexplicável. Ás vezes ainda o oiço. A nossa mãe, Helena, foi projectada trinta metros. A Carolina caiu sobre os seus joelhos, e a primeira coisa que fiz foi abraçá-la, com a mesma força e sentimento dos abraços da mãe. O nosso pai, Alberto, correu na direcção de sua mulher, a gritar, a chorar. Em desespero. Soube, logo ali, no preciso momento em que a máquina atingiu aquele corpo humano, indefeso, que tudo ia mudar. Que a morte ia chegar. Sem dó. Sem medo. Chegou naquele dia para nos despedaçar.
O condutor não parou. Seguiu. Escusado será dizer que a polícia nunca o prendeu.
Aquele foi o momento perfeito da morte. O dia em que ela nos trouxe a tragédia.


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