sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Da Janela

Já ninguém se debruça no parapeito das janelas e vislumbra o mundo. Já são poucos aqueles que, de manhã ou à tarde ou à noite, vêem o melhor dos programas que a vida tem para oferecer. Há coisas que não se podem perder ou sequer deixar de existir. Da janela vê-se a azáfama matinal, vê-se tudo o que nos rodeia e ao qual nem sempre damos importância. Tudo o que vemos da janela das nossas casas tem significado e faz parte daquilo que somos como pessoas e como humanos. Quem tem a sorte de ter uma janela virada para a luz resplandecente de Lisboa, tem a sorte de a ver de forma privilegiada e única. E cada uma das janelas com vista para Lisboa é única, porque vê coisas que outras não conseguem. Contam histórias que muitas não podem contar, ouvem coisas que outras não podem ouvir. Da minha janela vê-se o sol, vê-se a lua. Vê-se o mato de Monsanto. Vê-se o Marquês e o Saldanha. A única coisa que não vejo são pessoas a ver o que eu vejo. Se parassem por um minuto que fosse, debruçadas sobre o parapeito, e vissem aquilo que eu vejo iam saber de tudo o que acontece ali, bem perto delas, ou lá ao longe. Da janela vê-se o mundo. Da janela vejo o teu mundo e o meu e a tua cidade. Vejo os sítios onde me dás a mão e os lábios. Vejo os passeios que tantas e tantas vezes pisamos e que tantas e tantas vezes vamos pisar, sempre sem nos cansarmos. Eu, à noite, debruço-me sobre o parapeito da janela e vejo-te. E é como se estivesses comigo a ver o melhor dos programas que a vida nos tem para dar.

P.

domingo, 31 de março de 2013

Cantiga tocada e cantada com beijos

A cantiga foi tocada e cantada cem vezes sem parar e não me cansei de a ouvir. A cada vez que recomeçava sentia algo de novo na sua melodia. Era sempre como a primeira vez. Como o teu beijo.

P.

domingo, 24 de março de 2013

As Terras do Sol

Corri numa planície repleta de oliveiras. Não bati em nenhuma. Fiquei com arranhões nos braços por passar por entre as silvas. Sujei as calças porque caí na terra seca e pálida que os meus passos pisavam. Suei o corpo porque corri numa planície e estava um sol abrasador. Cheguei mais cedo ao meu destino porque corri depressa demais. Apareceste e deste-me água. Bebi-a a um só gole. Estava fresca. Já menos ofegante pedi-te um beijo na face. Tu deste. Disse que te amava. Tu disseste o mesmo. Levantei-me, beijei-te os lábios e corri. Corri pela planície. Olhei para trás e ainda via o teu sorriso. E sorri também. Caí na terra, seca e pálida. Arranhei-me nas silvas. Não bati em nenhuma oliveira. Suei o corpo porque corri numa planície e porque estava um sol abrasador. Cheguei ao meu destino e sentei-me. Olhei o horizonte e imaginei-te a caminhar e a sorrir. E, também eu, sorri.

P.