domingo, 23 de maio de 2010

A Fragilidade das Coisas Frágeis



" ... foi como entrar, foi como arder ... "



Pensem, por um minuto que seja, em tudo o que nos rodeia.

Ontem vi um mundo desabar. Era um mundo de duas pessoas apenas. Mas era forte, deles. Era, sim. É passado, mas ainda é presente e ainda vai ser futuro. Aquele mundo vai ser sempre deles, quer queiram, quer não. Não há como fugir disso. Tudo o que viveram e tudo o que viram nascer vai lá estar, para sempre. Vão estar separados, não vão olhar ao mesmo tempo. Não se vão ver. Mas sabem que, tanto um como o outro, vão relembrar tudo. Irão olhar para trás e chorar. Pode não ser um choro em forma de lágrimas, mas a saudade será imensa. Podem até largar um sorriso, pois, sabem que tudo foi perfeito, que tudo deu certo, que tinham futuro. Mas juntos, de mãos dadas, de lábios dados, não separados.

Já pensaram?

Ontem, morreu um Amor, mais um. Era tão forte que se tornou frágil. E tornou-se frágil porque era tudo o que viam e tudo o que viviam. Não tinham olhos para mais nada. Fecharam-se no seu mundo e perderam o outro mundo, aquele que é nosso e que era deles. Deixou de o ser e no deles se perderam. Em promessas. Em palavras eternas e de eternidade.

A sério, pensem, por um minuto que seja, em tudo o que nos rodeia.


" A Fragilidade das Coisas Frágeis " - 23/05/10

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A Nova Casa



Tinha uma outra casa. Escura. O chão era de alcatifa e tinha aquele cheiro tão característico. A janela estava quase sempre fechada. Era rara a luz que ali entrava. O ar era pesado e a mobília demasiado antiga, já velha e com alguns buracos e brechas. A cama era grande mas nada confortável e, para mais, fazia um ruído feio quando nela me deitava. Esta foi a minha casa durante vários anos. Impessoal.
Agora, quando olho para trás, não tenho saudades. Lembro-me de mal conseguir respirar. Era o meu canto e, ao mesmo tempo, o meu recreio. Saudades, não. Prefiro esta nova casa. Repleta de luz e um ar leve e puro e vivaz. Este não me magoa. Ando descalço no chão, deito-me nele. Posso, finalmente, sorrir e contar histórias. Esta é a minha verdadeira casa. O sítio dos Deuses. Um jardim banhado pelo sol e por gargalhadas.


" A Nova Casa " - 21/05/10

terça-feira, 18 de maio de 2010

Sorrow

"Sorrow found me when I was young,

Sorrow waited, sorrow won.

Sorrow that put me on the pills,

It's in my honey it's in my milk.

It's only about half a heart alone

On the water,

Cover me in rag and bones, sympathy.

Cause I don't wanna get over you.

I don't wanna get over you"


Sorrow - The National/High Violet ( 2010 )

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Partilha Reservada



" ... raise our heavenly glasses to the heavens ... "


A reserva de quem gosta observar quem o rodeia. A reserva de quem, com astúcia, vai dedilhando as palavras, as imagens e os gestos dos outros, sem eles perceberem. É uma reserva que vai sendo partilhada a pouco e pouco, enquanto se conquista empatia. Partilhar o que se observa faz parte de mim, daquilo que sou, de quem sou como pessoa, como Homem. Ser-se observador tem muito que se lhe diga. Sensibilidade e perspicácia. Olhos bem abertos, sensíveis a qualquer movimento ou som. Vão-se tirando fotografias mentais, vai-se escrevendo numa folha de papel em branco. Captar sorrisos e pequenos olhares enche-me a alma de sol, por vezes, são esses sorrisos, os dos outros, mais do que os meus, que me trazem paz. É bom ver que aqueles que estão à nossa volta se deliciam connosco, ou porque gracejamos ou porque, simplesmente, falamos das nossas experiências e aventuras. Isso, para mim, chega. É-me tudo. Tem-me sido tudo, também.


" Partilha Reservada " - 18/05/10

sábado, 1 de maio de 2010

Sotaque




"... hoje toquei num avião sem tirar os pés do chão..."


Faço zoom à paisagem. Ao longe avisto montes, oliveiras, casas, pintadas de branco e azul, perdidas no meio da flora alentejana. Avisto moinhos, quintas, riachos. Avisto o sol, as nuvens e, principalmente, o céu, também ele azul, também ele mágico. Adoro olhar o céu, caminhar nas nuvens, sentir o sol na cara.
Fecho os olhos. Inspiro o ar fresco do campo. Inspiro toda a inspiração que ele me traz. Bebo as suas histórias e bebo as suas gentes, simples, humildes. Todas elas com algo para contar, seja por se sentirem sós ou seja pelo simples, mas sincero, gosto em partilhar.
Abro os olhos, alcanço o mundo. Estava mesmo a precisar disto. De fugir um pouco. De encher o peito de coisas simples, mas coisas que verdadeiramente me trazem plenitude e acalmia.


" Sotaque " - 01/05/10