quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Revolução



Sozinho de mãos dadas com o tempo. Percorrendo ruelas e becos. Sozinho de mãos dadas com o tempo e atirando pedras às estátuas do passado. Sozinho, a olhar para o que aconteceu. O que aconteceu, o que já lá vai, o que perdi em guerras inúteis, em pesadelos de cores garridas e claustrofóbicas.
Quero deitar tudo cá para fora, mas os obstáculos que se erguem mesmo diante de mim não me deixam caminhar ou correr ou, sequer, produzir pensamentos e ideias sensatas e terminais. Sozinho.
Sozinho de mãos atadas pelo tempo que passou. Pelo passado. Pelos momentos que um dia me deram esperança e lucidez.


" Revolução " - 23/02/11

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Já Fiz o Mundo Parar

O homem começou a escrever.
Dele saíam apenas suspiros, e da sua face caíam gotas de suor. Escrevia como nunca vira ninguém escrever. Estava pasmado.
Ao fim de dez minutos, levantou a cabeça, olhou para mim e perguntou: «Sabes quem sou?». «Não, nunca o vi. Mora aqui?», respondi. «Não. Vivo nestas folhas onde escrevo as minhas histórias. Vivo nestas paredes onde pinto quem sou. Vivo nas coisas que preenchem este espaço. Sejam elas a madeira da porta ou a cera desta vela que nos ilumina. Eu não sou ninguém. Sou a sombra e o vento. Sou o que te rodeia, o que nos rodeia.»
Aquelas palavras ecoaram no vazio, e ecoaram, também, na minha cabeça. Pesaram-me. Não sei porquê, mas aquele homem tinha algo de especial e de oculto.
Ele voltou a baixar a cabeça e voltou a fechar-se no seu mundo. 
Minutos passaram. Palavras jorravam naquelas páginas. Lá fora, a chuva começara a cair, com força. Com a força dos trovões. E o homem não parava de escrever.


" Já Fiz o Mundo Parar " - 05/02/11