sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Da Janela

Já ninguém se debruça no parapeito das janelas e vislumbra o mundo. Já são poucos aqueles que, de manhã ou à tarde ou à noite, vêem o melhor dos programas que a vida tem para oferecer. Há coisas que não se podem perder ou sequer deixar de existir. Da janela vê-se a azáfama matinal, vê-se tudo o que nos rodeia e ao qual nem sempre damos importância. Tudo o que vemos da janela das nossas casas tem significado e faz parte daquilo que somos como pessoas e como humanos. Quem tem a sorte de ter uma janela virada para a luz resplandecente de Lisboa, tem a sorte de a ver de forma privilegiada e única. E cada uma das janelas com vista para Lisboa é única, porque vê coisas que outras não conseguem. Contam histórias que muitas não podem contar, ouvem coisas que outras não podem ouvir. Da minha janela vê-se o sol, vê-se a lua. Vê-se o mato de Monsanto. Vê-se o Marquês e o Saldanha. A única coisa que não vejo são pessoas a ver o que eu vejo. Se parassem por um minuto que fosse, debruçadas sobre o parapeito, e vissem aquilo que eu vejo iam saber de tudo o que acontece ali, bem perto delas, ou lá ao longe. Da janela vê-se o mundo. Da janela vejo o teu mundo e o meu e a tua cidade. Vejo os sítios onde me dás a mão e os lábios. Vejo os passeios que tantas e tantas vezes pisamos e que tantas e tantas vezes vamos pisar, sempre sem nos cansarmos. Eu, à noite, debruço-me sobre o parapeito da janela e vejo-te. E é como se estivesses comigo a ver o melhor dos programas que a vida nos tem para dar.

P.

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