domingo, 28 de fevereiro de 2010

Inegavelmente já passou


Tenho saudades das nossas viagens. Daquelas viagens de comboio, onde imperavam sorrisos e brincadeiras. Onde a despreocupação era o presente e onde o destino não era planeado. Tenho saudades, sobretudo, das nossas vivências e da nossa intimidade. Sei que nunca mais vou viver coisas parecidas, por mais aventuras que tenha, por mais alegrias que viva. Dantes era tudo melhor. Os tempos, as acções, o divertimento. Tudo era vivido como se não houvesse amanhã. Dançávamos, corríamos. Tenho mesmo muitas saudades da nossa meninice, sim era meninice. Era desprendimento, liberdade. Que é feito disso?

" Inegavelmente já passou " - 28/02/10

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Abrigo


Que se lixe. Estou farto de mentiras! Estou farto do meu egoísmo e das minhas neuras. Estou farto do meu coração. Não, não quero desaparecer, mas quero que algo me acorde. Sei que já o disse muitas vezes, mas agora sinto-o de verdade. Serei assim tão fraco? Serei, eu, incapaz de abrir os olhos e perceber que nada cai do céu? Merda, que derrotado de merda! Acorda, gaiato!
Já sonhei com tanta coisa, com tantos lugares e com tantos momentos. Com tantas pessoas. E onde é que isso me levou? A lado nenhum, pura e simplesmente. Sonhar não é mau, não. Até faz bem. Faz bem se colocarmos mãos à obra e fizermos alguma coisa para alcançar esses sonhos. É certo que nem sempre tive sorte, mas possas, a sorte protege os audazes e eu de audácia não tenho nada. Tenho medo, acho. As feridas custam a sarar e as cicatrizes marcam-nos para sempre mas não são impeditivas, são obstáculos que se superam com vontade e crença. Com lutas e querer. Com força. No entanto, não acho essa força. Não sei onde está nem onde a vou encontrar. Tudo me parece cinzento e sem vida, vazio, o nada.
Também estou quase a explodir com a ingratidão das pessoas. A sua futilidade e falsidade incomodam-me. Como é que é possível estarmos tão perto uns dos outro mas, ao mesmo tempo, tão distantes? Parecemos estranhos numa cidade desconhecida, num país desconhecido. Será que sou só eu que vejo isso? Que raiva!
Está na altura de erguer a cabeça. Abraçar quem me abraça e lutar contra as adversidades, sem medo. Com pujança. Não é, Luís?


« Luís, Luís! Acorda! Estás a ter um pesadelo. Acorda, homem! »
« Que foi? Que se passa? »
« Sei lá. Estavas p'raí a falar alto. »
« A sério? O quê? »
« Qualquer coisa sobre as pessoas e sobre ti, que estavas farto não sei do quê. »
« Só isso, mais nada? »
« Não percebi o resto. Porquê? »
« Nada, nada. Só para saber se tinhas ouvido mais alguma coisa. »


" Abrigo " - 23/02/10

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Começo


Quem somos? O que queremos desta vida que, constantemente, nos magoa e trai? Um dia gostava de descobrir tudo isto. Gostava de navegar num mar que me contasse como ultrapassar obstáculos, e como lutar contra tantas adversidades. Todos os dias me pergunto «O que faço aqui?», mas nunca encontro uma resposta a preceito, fico sempre na dúvida, confuso entre pensamentos nem sempre bem construídos ou, muito provavelmente, intempestivos.
Perco-me em cidades onde as pessoas não se olham e não querem saber do próximo. A distância que nos invade prende-nos e não nos deixa mergulhar nos sentimentos, por mais "insignificantes" que sejam. Somos feitos de fado, de saudade, de nostalgia e de estórias. Não vivemos o presente. Nunca! Temos a tendência de procurar um refúgio, e sempre o conseguimos. Eu conheço o meu, ou os meus. Sei que para sair de lá terei de lutar, terei de esquecer o passado, lança-lo para trás das costas. Sei que o crer terá de ser forte mesmo que me traga dissabores. Só quando isso acontecer é que vou conhecer o verdadeiro "eu".


" Começo " - 16/02/10

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

E a música toca lá ao fundo...

A noite está fria e chove copiosamente. O céu está escuro e carregado, como o meu rosto. As lágrimas que choro confundem-se com a água que cai lá de cima. A única coisa que me preenche é este saco de mentiras e medos, pedaços de um coração há muito partido. Eu sou um vidro estilhaçado, onde contemplo vários reflexos do meu ser mas nenhum deles corresponde à realidade. Ainda espero por um soco no estômago. Desejo acordar de um passado que ainda me prende as pernas e as mãos e me deixa despido de sentimentos e afectos. Já pertenço a esta cidade, ao seu movimento, à sua sensualidade, beleza e história, mas ainda sou feito de trilhos e caminhos de terra. Sou ainda as oliveiras e o cheiro a terra molhada. Sou o rosto, já comido pelo tempo, das gerações mais velhas. Sou o soar dos sinos da igreja e a relva do jardim lá do sítio. Sou tudo isto mas sou fraco e sou distante. Toco mas não sinto.


" E a música toca lá ao fundo... " - 20/01/10

sábado, 23 de janeiro de 2010

Fogo Vivo

Que caminho é este que sigo? Qual é o seu fim e propósito? Tudo isto parece-me estranho e perigoso, inquietante. Sinto que é o nada, o vazio, uma estreita estrada que me levará à escuridão, a um mundo incompleto e insensível. Um local feito de mágoas, onde teias prendem aqueles, os mais fracos e feridos. E onde cordas traçam desenhos macabros no chão e as pedras, essas, elevam grotescas estátuas de figuras aterradoras. O vermelho predomina. É incandescente. Não existe a mais suave brisa, só calor e chamas. Não sei o que hei de chamar a esse sítio, mas apetece-me chamar-lhe de casa.


" Fogo Vivo " - 12/01/10

domingo, 17 de janeiro de 2010

Frágil Esperança

O Amor traz-nos esperança
Mas traz-nos também fragilidade
É um dos pesos da balança
É um dos pesos da saudade

Nem sempre é-nos correspondido
Nem sempre nos dá aquele olhar
Sim, o Amor é fodido
Resta-nos crer no seu despertar


" Frágil Esperança " - 19/02/09

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

No Meu Mundo

Eu sou aquele que caminha sem saber
Sou mais um que vive da esperança
Hoje talvez seja mais um a morrer
De um Amor que me devorou na mudança
Sempre fui este corpo mendigo
Vagabundo dos sentimentos
Construí o meu abrigo através da Dor
Nas mesmas planícies onde colhi dolorosos ventos
Não há um dia em que me esqueça do futuro
Nem do medo que ele me traz
Esta verdade é só minha
É antiga, é forte, é mordaz
Vivo sem ter a certeza do que sinto
Sigo sem saber o caminho
A terra será o fim da vida
Que vou chorar sozinho


" No Meu Mundo " - 23/10/08

sábado, 9 de janeiro de 2010

Desordem

Não sei por onde ando, por quem passo
Não sei quem conheço, quem abraço
Passeio sozinho entre a multidão
Que me esmaga ao fechar a sua mão

Doem-me os sentidos de tanta tristeza e ansiedade
Trago em mim lágrimas carecidas de verdade
O coração bate mas ecoa num corpo vazio
Do qual a alma há muito partiu


" Desordem " - 05/01/10

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Sentes a alma crescer devagar. Sentes a dor bater devagar.
Confundes a alma com a dor,
A dor com o querer,
O querer com a arte de amar
E no fim, devagar, com calma...
Confundes o amor com o que é realmente a alma

11/12/09

By Carmen

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Dia 3

Dois mil e dez. Parece que foi ontem que entrámos nos os anos 00. Já passaram dez anos, dez. Não sei o que achar desta década. Boa não o foi. Poucas coisas alcançadas e muitos erros, demasiados erros. Por vezes lá surgia uma luz, uma pequena esperança. Não estou a falar só de mim, estou também a falar do mundo. Hoje vive-se num planeta débil, consumido por chamas e inundado pelos mares e chuvas. Se ainda há esperança? Há. É difícil de a manter viva mas temos de a renovar a cada dia que passa. Lutando, vencendo obstáculos e corridas. Tem de ser este o nosso pensamento.
Pessoalmente espero que este não seja mais um ano mas sim "O" ano. Mas sei que isso tem de partir de mim, com força e alegria. De cabeça levantada e atenta. Com paixão e Amor. Sonhando, sorrindo.






" Dia 3 " - 01/01/10