quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

E a música toca lá ao fundo...

A noite está fria e chove copiosamente. O céu está escuro e carregado, como o meu rosto. As lágrimas que choro confundem-se com a água que cai lá de cima. A única coisa que me preenche é este saco de mentiras e medos, pedaços de um coração há muito partido. Eu sou um vidro estilhaçado, onde contemplo vários reflexos do meu ser mas nenhum deles corresponde à realidade. Ainda espero por um soco no estômago. Desejo acordar de um passado que ainda me prende as pernas e as mãos e me deixa despido de sentimentos e afectos. Já pertenço a esta cidade, ao seu movimento, à sua sensualidade, beleza e história, mas ainda sou feito de trilhos e caminhos de terra. Sou ainda as oliveiras e o cheiro a terra molhada. Sou o rosto, já comido pelo tempo, das gerações mais velhas. Sou o soar dos sinos da igreja e a relva do jardim lá do sítio. Sou tudo isto mas sou fraco e sou distante. Toco mas não sinto.


" E a música toca lá ao fundo... " - 20/01/10

1 comentário:

Cátia Vilhena disse...

Muito Obrigado. :)
Os teus textos são magníficos. Parabéns tambem para ti.