segunda-feira, 19 de abril de 2010

A Tua Mão


"...E eu vou dizer que a noite é mais quente à luz do seu olhar..."

Saltei. Caí. Levantei-me. Caminhei. A tua casa ainda fica longe. Ainda tenho de atravessar estradas, caminhos de ferro, pontes e quintais. A distância não me preocupa, nem me assusta. O cansaço não surge e os pés como que voam. O coração segue o caminho, não o mais fácil, não aquele sem pedras e muros. Escolhe aquele que sente, que lhe fornece calor. Mesmo se este for, por vezes, doloroso e longo.
Avanço, cautelosamente, por entre a ramagem do bosque. Piso folhas caídas, atravesso riachos. Depois, subo os degraus da igreja e passo pelo café ao lado do campo da bola. Ao longe, já avisto a tua casa, caiada de branco. Tem umas janelas grandes, por onde entra a claridade do sol e o ar, puro e fresco, dos eucaliptos que se encontram mesmo junto do pequeno curso de água que dá vida ao espaço que circunda a tua casa caiada de branco.
Chego. Estás à janela. Os teus cabelos, castanhos, brilham. Fazes-me adeus e eu correspondo com um sorriso. Sento-me no chão junto a uma árvore, e não trocamos sequer uma palavra. O silêncio chega. O silêncio é perfeito. O silêncio é como tocar a tua mão, suave, revelador. É um silêncio baixinho, de suspiros. Não preciso de abrir a porta e ir ter contigo. Sei que amanhã vou ganhar um beijo teu, ou dois.


" A Tua Mão " - 20/04/10

3 comentários:

Ti disse...

As pequenas coisas são sempre as melhores...

Mariart disse...

Gosto da simplicidade da escrita, da simplicidade dos pormenores duma vivência alentejana, e de como a descrição nos relembra que a simplicidade pode ser mais plena.

(Descobri-te!)

Emília Pam disse...

José Luís Peixoto? <3