Era feito de pedra e era onde ele brincava e corria e jogava à bola. Era feito de pedra e era onde ele caía, se levantava e caía e feria os joelhos. Era, naquele largo, que ele vivia as tardes e as noites quentes, tórridas, de Verão. Lá viviam meninos despreocupados, sem intenção de futuro, mas com um presente feito de melodias que gargalhavam e dançavam ao sabor das brisas de tardes e noites alentejanas.
Enquanto eram observados pela vizinhança e pelas oliveiras que ao fundo preenchiam os montes, os miúdos alegravam as almas e cansavam os músculos. Não havia sítio como aquele, nem a relva do jardim era tão apelativa, onde os velhos, os avós, se sentavam à mesa e jogavam às cartas ou dominó. As pedras daquele largo eram pisadas como quem pisava aquela relva do jardim dos velhos.
O largo tinha as dimensões necessárias. Bom para futeboladas e para jogar ao berlinde, já que, havia um pequeno espaço de terra para fazer as três covas. As árvores que o ladeavam e os arbustos eram os locais predilectos para quem se divertia a jogar às escondidas.
Aquele largo era cheio de vida.
Sim, era. Cheio de vida. Hoje não passa de um simples local de passagem. Já não há baloiços, nem areia, nem miúdos a correr e a jogar à bola e ao berlinde. Hoje é um simples largo. É uma memória, ainda bem viva e presente. Uma memória que vive no passado mas que tantas e tantas vezes é rebuscada e buscada para o presente.
Aquele largo, onde ele brincava e corria e jogava à bola ainda lá está. Diferente, é verdade, mas contém as histórias e os passos de bebé. Aquele que serão sempre os primeiros e os últimos a morrer.
" Feito de Pedra " - 24/05/11